em clima de confiança o Coliseu
CDU arranca <br>com «chave de ouro»
Uma enchente, com o Coliseu em ambiente de festa e alegria – e onde sobretudo irradiou uma contagiante confiança –, marcou no domingo, 20, o arranque oficial da campanha da CDU no distrito de Lisboa.
Milhares de activistas dão corpo à campanha da CDU, informando, ouvindo e esclarecendo
Depois de nas últimas semanas ter desenvolvido uma campanha de esclarecimento e mobilização que privilegiou, nas suas mais variadas formas, o contacto directo com as pessoas – traço distintivo que se manterá até ao final –, a CDU arranca assim em grande força para esta nova fase da pugna eleitoral, com renovadas razões para acreditar no cumprimento dos objectivos a que se propôs e que animam os seus activistas e simpatizantes, disputando, palmo a palmo, cada voto, cada deputado.
Depois da magnífica arruada realizada no Porto na véspera, sábado, com milhares de activistas, fechando assim a pré-campanha com «chave de ouro», foi também «com chave de ouro que a CDU abriu oficialmente a sua campanha eleitoral», como bem observou Graciete Cruz, que presidiu ao período dedicado às intervenções políticas, sucedendo nessa tarefa a Luísa Ortigoso. Sobre esta consagrada actriz – a quem coube fazer as honras da casa na fase inicial do comício, apresentando o momento cultural preenchido com a boa música popular portuguesa da «Ronda dos Quatro Caminhos» –, disse Graciete Cruz, membro do CC e da Comissão Executiva da CGTP-IN, ser «um exemplo das muitas mulheres que não tendo filiação partidária tomam contudo partido e confiam o seu voto à CDU».
Não há impossíveis
Mulheres e homens que tomam partido contra o «discurso do medo» propalado pelos que têm medo de que a mudança seja possível», acreditando, como sublinhou Luísa Ortigoso citando Bertoldt Brecht no seu poema «Elogio da Dialéctica», que «nada é impossível de mudar», incluindo os «planos dos tiranos para dez mil anos».
No fundo, acreditar que «é possível e está ao nosso alcance uma real alternativa sustentada numa política patriótica e de esquerda capaz de assegurar a elevação das condições de vida dos trabalhadores e do povo e defender os interesses, a soberania e a independência de Portugal», como afirmou o Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, último orador do comício.
Sentimento este de enorme confiança que foi de resto a tónica dominante tanto no desfile (ver caixa) como durante as mais de duas horas e meia desta magnífica jornada de esclarecimento e mobilização realizada na histórica sala da capital, «uma sala emblemática», nas palavras do violinista da «Ronda dos Quatro Caminhos», numa alusão aos cantos livres que nela se realizaram, antes e depois do 25 de Abril.
Juventude presente
E foi por volta das 16 horas, após a chegada calorosamente saudada de Jerónimo de Sousa, entre um vibrante agitar bandeiras e gritos de «CDU», que foi dado início à actuação da «Ronda», com o público a brindar com ovações a arte deste grupo que já leva mais de 30 anos de carreira e que continua a ter como aposta principal a recriação das tradicionais músicas portuguesas.
Feita a mudança de cena no palco onde se dispunha em fundo um pano gigante branco com letras garrafais vermelhas a fazer sobressair a frase «Soluções para um Portugal com futuro», decoração complementada num dos lados, à frente, por um arranjo floral de muitas dezenas de cravos, ladeado pela bandeira nacional, foi a vez de serem chamados para a mesa do comício os candidatos da CDU, membros da DORL e da Comissão Política do CC, João Corregedor da Fonseca, da Intervenção Democrática, Heloísa Apolónia, do PEV, e Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP.
Alma Rivera, candidata e dirigente da JCP, abriu o período de intervenções lembrando que os jovens em Portugal não têm assistido a outra coisa que não seja a «políticas que prejudicam a sua vida e a dos seus pais e avós, sempre pelas mãos dos mesmos». Referindo-se a PS, PSD e CDS-PP, considerou que «carregam às suas costas o trabalho temporário, os contratos a prazo, recibos verdes, as propinas, o RJIES e o Processo de Bolonha, o Estatuto do Aluno», sendo ainda responsáveis pela «emigração de 500 mil portugueses, o roubo nos salários, o corte no financiamento do Ensino Secundário e Superior, como nas bolsas de estudo».
Sobre os partidos da política de direita recaiu ainda a acusação de serem os «obreiros de uma escola pública sem condições, do desemprego, do trabalho precário, da destruição da criação e fruição artística, do abandono escolar, da inexistência de apoio aos jovens na habitação».
Depois de lembrar que todas as medidas lesivas da juventude tiveram o combate da CDU, defendeu que as «cartas estão na mesa», pelo que «não há que enganar» e é na coligação de comunistas, ecologistas e outros democratas que está o «voto que dá garantias, que não cai em saco roto e dá mais força aos interesses juvenis».
A força do povo
Chamados a intervir foram depois o presidente do Comissão Directiva da ID, João Corregedor da Fonseca, e a deputada e dirigente do Partido Ecologista «Os Verdes», Heloísa Apolónia (ver pág. seis), cabendo ao Secretário-geral do PCP, de cuja intervenção publicamos excertos na página sete, encerrar o comício. Jerónimo de Sousa voltou a chamar a atenção para o que está em jogo nestas eleições – prosseguir este rumo de desastre ou romper e abrir caminho à concretização de uma política patriótica e de esquerda –, recordando o imenso capital de trabalho, de propostas e combate à política de direita levado a cabo pelos deputados comunistas e ecologistas na AR.
Identificando os principais traços que caracterizaram e envolveram a acção na CDU nesta pré-campanha, sublinhou o reconhecimento de que é nela que reside «essa imensa força – a força do povo –, a força com que os trabalhadores e o povo sabem contar para defender os seus direitos» e para «desbravar o caminho a uma política alternativa».
O reconhecimento daqueles que «não desertam nas horas difíceis», e que «têm soluções para o País», dos que afirmam a «defesa dos interesses nacionais perante a submissão», dos que «defendem sem ambiguidades a devolução dos salários e das pensões roubadas», dos que se batem pelo aumento dos salários e do salário mínimo nacional para 600 euros», que defendem uma «política fiscal que desagrave os impostos sobre os trabalhadores e o povo e tribute o grande capital e fortunas».
Gente séria
Depois de detalhar as razões e atributos que levam a que bem se possa dizer que «a CDU é gente séria» – desde a forma como honra a palavra e cumpre o que diz à «coerência e coragem» na resistência e combate à «política de destruição das condições de vida», passando pela forma como «leva a sério os problemas dos trabalhadores, dos reformados, dos pequenos e médios empresários, e dos jovens» –, o líder comunista demonstrou como «no essencial» há uma «identidade das políticas» daqueles que têm governado o País (PS, PSD e CDS-PP), apesar do «esforço em contrário da nada inocente campanha de bipolarização política que está em marcha a coberto dessa mistificação da eleição para primeiro-ministro».
E depois de considerar que, «digam o que disserem», todos eles têm responsabilidades pelas «feridas sociais que abriram na sociedade portuguesa», pelo «trágico programa de saque, exploração e empobrecimento», pela «dívida insustentável e um serviço da dívida sufocante», Jerónimo de Sousa advertiu para a tentativa que também todos eles têm em curso de «pôr o conta-quilómetros a zero», classificando-a como o «maior embuste» lançado por aqueles partidos na pré-campanha eleitoral.
E mostrados que foram por si os pontos comuns existentes nos programas da maioria PSD/CDS e do PS, Jerónimo de Sousa defendeu por isso não ser suficiente «mudar de governo», asseverando que «é preciso também mudar de política».
A alternativa
Trata-se, explicou, de «romper com a política de direita e afirmar e concretizar uma política alternativa», «uma política não só indispensável e inadiável, como possível e realizável», que, entre outros vectores, proceda a uma aposta decisiva no crescimento económico, afirme o desenvolvimento soberano do País, proceda à renegociação da dívida, valorize o trabalho e os trabalhadores, assegure uma política fiscal justa, afirme o papel do Estado na economia, garanta o bem-estar e a qualidade de vida, os direitos à Saúde, à Segurança Social, ao Ensino, combata a corrupção e respeite e cumpra a Constituição.
Daí o apelo ao envolvimento de todos na campanha da CDU, para lhe dar força, com a certeza de que com essa força, «com a força do povo, é possível um Portugal com futuro, numa Europa dos trabalhadores e dos povos».
No final, tocado o hino nacional, foi com essa convicção que seguramente saíram do Coliseu, ao som da Carvalhesa, todos os que ali estiveram a partilhar em clima de fraterna camaradagem um grandioso comício, disponíveis para «ir à luta, com confiança».